As marés e a utilização das tábuas de marés
As marés são o movimento periódico das águas dos oceanos e mares, causado principalmente pela atração gravitacional da Lua e do Sol sobre a Terra. Elas resultam em uma variação regular no nível da água, com picos de alta-mar e de baixa-mar ocorrendo em intervalos regulares ao longo do dia. É fácil verificar que nas semanas de lua cheia e de lua nova a amplitude (variação entre uma preamar e uma baixa-mar ou vice-versa) é maior que durante as fases de quarto crescente ou minguante.
Marés de grande amplitude (que ocorrem por ocasião de lua cheia e lua nova) são chamadas de marés vivas ou de sizígia. Já as de menor amplitude (quarto crescente ou minguante) são as marés mortas ou de quadratura.
Como Funcionam as Marés:
A influência da Lua, e também do Sol, na massa líquida da Terra depende da posição desses astros. Como a Lua (embora muitíssimo menor que o Sol) está mais próxima da Terra, acaba tendo o dobro da influência do Sol nas marés. Lembrando: pela lei da gravitação universal de Newton, os corpos se atraem na razão direta de suas massas e inversa do quadrado das distâncias.
Quando a Lua está diretamente acima de uma região, a atração gravitacional é mais forte, causando a maré alta ou viva. Da mesma forma, quando a Lua está em uma posição oposta à região, ocorre uma outra alta-mar, conhecida como maré alta oposta. Nas marés de sizígia, as forças gravitacionais da Lua e do Sol se combinam para atrair a massa líquida de maneira mais forte, porque, nessa ocasião, estão alinhados com a Terra, em conjunção (lua nova, quando o sol e a lua estão do mesmo lado em relação à Terra) ou em oposição (lua cheia, ou seja, quando a Terra está entre o Sol e a Lua).
Entre essas altas-mares, há os períodos de baixa-mar ou maré morta, quando a variação da maré é menor. Isso ocorre quando o alinhamento da lua é perpendicular ao do sol, nas fases crescente e minguante.
Além da Lua, o Sol também exerce uma influência significativa nas marés, embora em uma escala menor do que a Lua.
Terminologia das marés:
- Nível de redução (NR): média das baixa-mares de sizígia num determinado período. É a referência (nível 0) nas cartas náuticas brasileiras. Portanto, a altura das marés é contada a partir do NR.
- Nível médio (NM): média das alturas observadas durante um período longo. É um valor constante ano a ano, e fornecido em relação ao NR, ou seja, acima deste.
- Altura da maré: altura da água existente acima do NR. É indicada na Tábua das Marés.
- Profundidade do local: soma do NR com a altura da maré.
- Estofo: pequeno período em que praticamente não há variação no nível das águas. Ocorre nas preamares e nas baixa-mares.
- Fluxo: é quando a correnteza de maré segue em direção à praia; maré enchente.
- Refluxo: quando a correnteza de maré vai da praia para o mar; maré vazante.
- Maré alta ou maré de lua: o mesmo que maré de sizígia e maré viva, maré de grande amplitude (ocorre por ocasião das luas cheia e nova).
- Maré baixa ou morta: maré que ocorre nos quartos crescentes e minguantes.
Utilização das Tábuas de Marés: As tábuas de marés fornecem informações precisas sobre os horários e níveis das marés em uma determinada região. Elas são essenciais para marinheiros, pescadores, surfistas e outros que dependem das condições das marés para suas atividades. As tábuas de marés indicam os horários de alta-mar e baixa-mar, bem como a altura da maré em relação a um ponto de referência, geralmente a média baixa-mar. Elas também podem incluir informações sobre correntes, direção do vento e outras condições relacionadas ao mar.
A Tábua das Marés é publicada anualmente pela Marinha (Diretoria de Hidrografia e Navegação - DHN) e cobre os principais portos brasileiros do norte para o sul e alguns portos estrangeiros. É uma das publicações importantes para quem navega e pode ser obtida via internet, no site da Marinha. No cabeçalho, consta o nome do porto, o estado, as coordenadas da estação maregráfica responsável pela coleta dos dados, o nível médio da região e a carta mais detalhada do local. Nas colunas, temos a hora, os minutos e a altura acima ou abaixo da carta náutica (NR).
Exemplo:
Em 20 de abril de 2020, em São Sebastião/SP, temos duas baixa-mares (às 08h02 e às 19h47) e duas preamares (às 02h00 e às 13h19). A amplitude na parte da manhã é de: 1,0 – 0,3 = 0,7 m. A maior amplitude do dia é de 1,1 – 0,0 = 1,1 m, entre 13h19 e 19h47. Supondo um local da carta náutica da região, em que a sondagem (NR) fosse de 5,0 m, teríamos às 13h19 uma profundidade 5,0 + 1,1 = 6,10 m. Já no mesmo local, às 19h47 a profundidade seria igual à da carta náutica, 5 metros, pois a altura da maré é zero.
Onde Obter Tábuas de Marés Eletronicamente:
- Hoje em dia, as tábuas de marés estão amplamente disponíveis online e em aplicativos móveis especializados.
- Websites como o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), o Instituto Hidrográfico Brasileiro (IHB) e outros órgãos governamentais oferecem previsões de marés para várias regiões do mundo.
- Além disso, aplicativos para smartphones como Tide Charts, Tides Near Me e Magicseaweed também fornecem informações atualizadas sobre as marés em tempo real.
Dicas sobre marés:
Nas barras e nos canais, a correnteza costuma ser muito forte durante as marés vivas, devido à variação do nível das águas. Se seu barco for lento (como um veleiro), programe-se para entrar ou sair sempre a favor da correnteza.
As correntezas são sempre menores junto às margens do que no meio do canal.
Ao passar por uma barra desconhecida, é sempre melhor entrar uma hora antes da preamar, pois se o barco encalhar é mais fácil desencalhar quando a maré ainda estiver subindo.
Nas atracações em cais fixos, utilize espringues e lançantes, e esteja preparado para regular estes cabos durante as marés de grande amplitude. Nunca utilize espias do tipo través (posicionadas perpendicularmente ao eixo do barco), porque são curtas e podem arrebentar com as variações da maré.
Em cais flutuantes, pode-se utilizar espias do tipo través e na maioria das vezes não é necessário regular os cabos de amarração.
Nas barras (ligações dos rios e canais com o mar), os bancos de areia e de lama costumam mudar de posição. Por isto, as sondagens (profundidades) mostradas nas cartas náuticas nem sempre são confiáveis, e navegadores experientes deixam uma margem de segurança (pé-de-piloto) de 50 cm.
É importante saber que embora sejam previsíveis (e possam ser consultadas na Tábua das Marés, publicada anualmente pela Marinha), as marés também sofrem a influência das condições atmosféricas, e podem ser alteradas por ventos e chuvas fortes, principalmente nos canais. No Porto do Rio Grande (RS), por exemplo, quando o vento sul sopra forte, as águas ficam de tal forma represadas que praticamente não têm variação de nível.
Devido à grande extensão da costa brasileira, as marés variam bastante em todo o litoral. Em Florianópolis, o nível médio (média geral do nível das águas) é de 0,63 m. Já em São Luís (MA) é de 3,28 m, o que significa, por exemplo, que no Maranhão a amplitude ultrapassa 6,0 m durante algumas marés de sizígia — consequentemente, nessas ocasiões, a correnteza é muito forte, e deve-se programar a entrada ou a saída do porto sempre a favor da maré.
Curiosidades:
Pelo mundo, a variação do nível das águas é gradual, porém, no braço norte do Rio Amazonas, algumas vezes na lua nova, a maré sobe de uma vez, com uma onda violenta, a chamada "pororoca", notória pelo estrago que faz mata a dentro.
A força das marés também movimentam usinas de energia elétrica. A primeira delas no mundo foi construída no Rio Rance, na França, em 1966, com turbinas impulsionadas pelo fluxo das águas tanto na maré vazante quanto na maré enchente. Nesse local, situado na região da Bretanha, a amplitude da maré pode chegar a 14 m.
A maior variação de marés que se conhece ocorre na costa leste canadense, na Baía de Fundy (Canadá), onde a amplitude chega a 20 m!
Em resumo, entender as marés e utilizar as tábuas de marés é fundamental para navegar com segurança e aproveitar ao máximo as atividades relacionadas ao mar. Com acesso fácil às previsões de marés eletrônicas, os navegadores podem planejar suas viagens e atividades de forma mais eficaz e evitar surpresas desagradáveis relacionadas às condições do mar.