Manobras básicas: fundear

31/10/2023

Fundear refere-se ao ato de ancorar ou fixar uma embarcação em um determinado local utilizando uma âncora ou outro dispositivo de fixação adequado como as poitas, que são bóias de amarração. Ao escolher o método adequado de fundeio, seja utilizando poitas ou âncoras, os navegadores podem proteger tanto a embarcação quanto os ecossistemas aquáticos ao seu redor. Além disso, fundear com precisão é essencial para garantir uma boa noite de sono ou para proporcionar momentos tranquilos. Saber pegar uma poita ou ancorar uma embarcação é vital para a segurança, a eficiência operacional e a preservação dos ambientes marítimos, além de  evitar danos à estrutura da embarcação e minimizar os riscos de colisões. 

Pegar poita:

  • Segurança da poita:  antes de pegar uma poita procure saber se ela é bem mantida e qual o tamanho de barco ou tonelagem máxima que suporta. Verifique também a qualidade e o estado dos cabos da poita. Depois de fundear é aconselhável mergulhar e verificar se não há sinais de desgaste no cordame e se a poita está bem fixada no fundo. Se necessário passe um cabo extra fixando-o na base da poita. 
  • Aproximação Cautelosa: antes de se aproximar da poita deixe as espias de amarração prontas e desembaraçadas. Passe uma das pontas da espia pelo centro dos cunhos da proa e prenda-as com um Laís de guia. Deixe as outras pontas prontas para passar pela argola da poita, em um local de fácil alcance e sem risco de cairem na água. Verifique como os barcos já apoitados estão afilados em relação ao vento, correnteza ou a resultante de ambos.  Aproe o barco na mesma direção dos outros barcos ou contra o vento e aproxime-se da poita com cuidado. Considere a inércia de seu barco e tire motor antes de chegar na poita para que o barco pare sobre ela. Se a inércia do barco não for suficiente para chegar na poita, engate a vante com força mínima até alcança-la. Se estiver avançando muito rápido e perceber que irá ultrapassar a poita, engate ré para parar o barco. 
  • Uso do croque (gancho com haste longa): quem estiver encarregado de içar o cabo da poita deve se posicionar na proa e apontar o croque em direção a poita para facilitar a visualização do piloto da embarcação. Quando o barco estiver com a proa sobre a poita aponte o croque para baixo e sinalize para o piloto parar. Não pegue a poita antes do barco parar sobre ela. Se o barco estiver em movimento corre-se o risco do croque ficar preso na poita, cair na água ou quebrar. Use o croque para içar o cabo da poita e passe a ponta livre de uma das espias pela argola de amarração da poita e faça um nó de cunho sobre o Laís de guia que prende a outra ponta desta espia.  
  • Fixação Adequada: depois de preso o barco na poita com a primeira espia, ajuste a amarração e passe a segunda espia pela argola da poita e faça um nó de cunho sobre o Laís de guia que prende esta nova espia. Ajuste as duas espias para formem um "V" a vante da proa e garantam uma dupla amarração do barco à poita.


Ancorar:

  • Preparação da ancoragem:
  • Certifique-se de ter um bom sistema de âncora, que geralmente inclui uma âncora, corrente, cabo e guincho manual ou elétrico em embarcações maiores.
  • Escolha o tipo de âncora apropriado para as condições do fundo marinho (areia, lama, cascalho). 
  • Verifique se a âncora está livre de detritos e se todo o sistema de ancoragem está funcionando corretamente.
  • Veja se que amarra não está desgastada ou se possuí pontos fracos que possam se romper.
  • Certifique-se de que a quantidade adequada de corrente esteja conectada à âncora para proporcionar uma ancoragem segura.
  • Tenha certeza de que ponta livre do cabo ou corrente esteja presa ao barco para no caso dela correr toda, não cair no mar.

  • Escolha do Local: 
  • Considerando o vento, corrente e a previsão do tempo se for pernoitar, selecione um local abrigado e seguro na carta náutica com boa ancoragem de preferência com fundo de areia ou lodo, livre de pedras e corais. Não ancore em fundos rochosos, coralíneos ou de gramíneas marinhas.
  • Verifique na carta náutica obstáculos, como pedras, naufrágios, bóias, entrada de canal, etc, que possam interferir no acesso à ancoragem e/ou no giro do barco depois de ancorado. 
  • Veja na carta náutica a profundidade para garantir que seja adequada para o calado do seu barco. 
  • Aproximação do ponto de ancoragem:
  • Fique atento a profundidade do local durante toda a aproximação do ponto de ancoragem, utilizando o "Chart Plotter" em sua menor escala, em paralelo com a sonda ou ecobatímetro.
  • Aproxime-se do local de fundeio em baixa velocidade. Evite fazer marola para não causar desconforto ou mesmo avarias nos barcos ao redor.
  • Observe a direção do vento e aproe como todos os outros, com atenção ao raio de giro dos seus vizinhos, No caso de uma mudança do vento ou maré, todos poderão girar, inclusive em alinhamentos diferentes em relação aos outros barcos.
  • Certifique-se de que todos a bordo estejam cientes das precauções de segurança durante o processo de ancoragem.
  • Procedimento de ancoragem: 
  • Aproe o barco para o vento e siga lentamente até o ponto escolhido de ancoragem. 
  • Não esqueça que quem já estava ancorado tem a preferência. Portanto, não largue sua âncora sobre a corrente de outros barcos.
  • Tire o motor e solte a âncora de maneira controlada. Ao sentir que a âncora tocou o fundo, continue soltando corrente até três vezes a profundidade. 
  • Deixe o barco derivar até ele aproar na direção da âncora e espere a corrente esticar até sentir que ela prendeu no fundo. 
  • Se a amarra for toda de corrente: volte a soltá-la pelo menos cinco vezes a profundidade. 
  • Caso sua amarra seja mista de corrente e cabo, solte no mínimo sete a oito vezes a profundidade. 
  • Em ambos os casos, se houver ventos fortes, largue dez vezes ou mais a profundidade. Não economize!
  • Depois do barco aproar novamente para o vento e de sentir um solavanco que demonstra que a âncora prendeu ao fundo, dê marcha a ré, aumentando aos poucos o giro do motor, para verificar se a âncora está bem presa e para garantir uma melhor fixação. 
  • Verificação: 
  • Ao dar marcha a ré, tome duas marcações fixas em terra que permitam um alinhamento e assegure-se de que a âncora não está garrando (arrastando). Se não for possível alinhamentos com marcas notáveis em terra, ligue o alarme de ancoragem do GPS. 
  • Ao tirar o motor verifique se o barco é puxado de volta em direção a âncora, o que demonstra que a ancoragem foi bem feita. 
  • Ajustes após a ancoragem: 
  • Depois que o barco parar de derivar e for puxado pela âncora, fixe uma das pontas de um cabo (bridão) com cerca de 1,5 metros no cunho da proa e ate-o na corrente da ancora. 
  • Continue a soltar até que ela forme uma barriga fazendo com que a força da âncora fique no bridão e não no guincho da ancora.
  • Monitore as condições climáticas para ajustar a ancoragem conforme necessário.
  • Caso a área onde fundeou receba ondulação de mar aberto ou sofra grande influência especialmente em condições adversas devido mudança do tempo, solte mais amarra, considere usar um segundo sistema de ancoragem para maior segurança, ou mesmo mudar o ponto de ancoragem para um local mais abrigado.
  • Sinalização:
  • Durante o dia, deve ser içado um sinal em forma de balão à proa de todos os barcos fundeados.
  • Durante a noite, barcos fundeados devem manter acesa uma única luz branca circular no ponto mais alto do barco.
  • Quando fundeado não deixe as luzes de navegação ligadas para não atrapalhar a manobra de outra e não utilize luzes estroboscópicas, uma vez que a finalidade desse tipo de luz é somente indicar um pedido de socorro.
  • Recuperação da Âncora:
  • Recupere a âncora lentamente, dando motor a vante e movendo o barco em direção à âncora enquanto levanta a corrente e a âncora.
  • Quando estiver aprumado com a âncora, mantenha o barco na posição até a recuperação total da âncora.
  • Caso a âncora esteja presa no fundo, prenda a amarra em um cunho e manobre a vante ou para os lados até sentir que ela se soltou. Se continuar presa ao fundo, não force, pois poderá danificar o barco ou o sistema de ancoragem. Se não conseguir subir a âncora manobrando com o motor, mergulhe e tente soltá-la manualmente. Em último caso, corte a amarra ou solte toda a corrente na água considerando a âncora como perdida.
  • Certifique-se de que a âncora esteja bem presa e segura antes de zarpar.
  • Limpe e lave todo sistema de ancoragem com água doce antes de armazená-la, mantendo-o sempre lubrificado com produtos anti-corrosivos.

Lembre-se de que as condições do mar podem mudar, e é importante monitorar constantemente o barco enquanto estiver ancorado. Praticar a ancoragem em diferentes condições ajudará a desenvolver habilidades e confiança nessa importante habilidade náutica.


Tipos de âncoras:

Âncora é qualquer peça que, presa a uma amarra (cabo da âncora) que sirva para segurar uma embarcação ao fundo do mar. Numa referência ao material das antigas âncoras, também é chamada de ferro, mas pode ser feita de materiais mais rudimentares como madeira e pedra.

Existem diversos tipos de âncoras, cada uma projetada para atender a condições específicas de fundo marinho e fornecer uma fixação segura para o barco. As fabricadas em aço galvanizado a fogo ou em aço inoxidável são as mais utilizadas em embarcações maiores, pois são mais pesadas e resistentes, enquanto as fabricadas em alumínio são mais leves e fáceis de manusear, sendo adequadas para barcos menores ou como âncoras secundárias.

Âncora Danforth:

  • Design: possui duas pás afiadas fixadas à uma haste móvel.
  • Uso: eficaz em fundos de areia ou lama. Boa para ancoragem temporária. 
  • Desempenho:  é mais eficiente (maior capacidade de fixação em relação ao peso). Também é fabricada em liga de alumínio e magnésio, que é mais leve, o que facilita o manuseio.

Âncora de Garras (Bruce):

  • Design: possui três lâminas curvas e pontiagudas.
  • Uso: adequada para fundos de areia, cascalho e lama. Boa em condições de vento e corrente.
  • Desempenho: devido às dimensões reduzidas e à ausência de partes móveis, é a mais fácil de guardar a bordo. Unha rapidamente ao tocar o solo e é a mais resistente em fundos de pedras.

Âncora de arado (CQR):

  • Design: tem uma haste articulada e uma lâmina.
  • Uso: funciona bem em fundos de areia, lama e cascalho. Boa estabilidade em várias condições.
  • Desempenho: conhecida também por CQR, tem capacidade de fixação maior que a bruce, porém é mais difícil de guardar a bordo.

Âncora Plough (Delta):

  • Design: possui uma única lâmina inclinada.
  • Uso: eficiente em fundos de areia, lama e cascalho. Boa para ancoragem em condições variadas.
  • Desempenho: lançada em 1993 pela inglesa Simpson Lawrence (hoje Lewmar, fabricante também da CQR), é um misto entre a bruce e a arado. Segundo o fabricante, tem poder de fixação superior a ambas.

Âncora Rocna:

  • Design: a âncora Rocna apresenta uma lâmina curva e uma haste inclinada. Seu design inovador permite uma rápida penetração em diferentes tipos de fundo, proporcionando uma excelente retenção.
  • Uso: a Rocna é versátil e eficaz em diversos fundos marinhos, incluindo areia, lama e cascalho. 
  • Desempenho:  é uma escolha popular para velejadores que desejam uma âncora de alto desempenho.

Âncora Almirantado (Admiralty):

  • Design: a âncora Almirantado é a mais tradicional de todas com um design simples e robusto. É uma âncora de garra tradicional com uma haste reta, um cepo transversal preso a haste e duas lâminas que se projetam.  
  • Uso: a âncora almirantado oferece boa retenção em diversos tipos de fundo e são usadas em barcos de pesca e escunas, 
  • Desempenho: é uma âncora eficiente, porém, muito difícil de guardar a bordo. Para facilitar, alguns fabricantes oferecem modelos com cepo (cuja função é posicionar a âncora de maneira que as patas penetrem no solo) desmontável. 

Âncora Patente:

  • Design: a âncora Patente é uma variação da âncora Almirantado, geralmente com uma haste mais curta e sem cepo. Possui lâminas semelhantes à Almirantado, mas em uma escala menor.
  • Uso: utilizada em navios, por conta da facilidade de manuseio.
  • Desempenho: sua eficiência é péssima (cerca de um décimo de uma boa danforth) e, portanto, não deve ser utilizada num barco de lazer.


Âncora Garatéia:

  • Design: a âncora Garateia tem um design que se assemelha a um gancho ou garra, com hastes curvas convergindo para um ponto central. Sua estrutura é robusta e resistente.
  • Uso: tradicionalmente utilizada em barcos de pesca. 
  • Desempenho: é eficaz em fundos rochosos e cascalho. Geralmente usada para ancoragem temporária.


Ao escolher uma âncora, é essencial considerar o tipo de fundo marinho predominante na área de ancoragem e as condições climáticas. Ter diferentes tipos de âncoras a bordo permite que os navegadores escolham a mais adequada para as condições específicas em que estão ancorando.